
Como você explica aos outros como é a dor crônica?
- Os pacientes se sentem socialmente isolados;
- Metáforas para tornar a dor compreensível;
- A dor como um inimigo externo.
Os pacientes com dor crônica acham muito difícil expressar sua dor em palavras ou explicar aos outros como experimentam sua dor. Muitas vezes, eles descrevem sua dor usando metáforas, para que ela se conecte melhor à experiência das pessoas ao seu redor. No entanto, muitos se sentem socialmente isolados, porque as pessoas em seu ambiente não entendem como a dor as afeta. Esta é a conclusão de pesquisadores australianos que realizaram entrevistas em grupos focais com dezesseis pacientes com dor crônica.
Isolamento
Muitos dos pacientes com dor crônica, com idades entre 22 e 74 anos, se sentem socialmente isolados. É impossível para eles colocarem sua dor invisível em palavras e, como pessoas de fora não entendem a dor ou não querem ter nada a ver com isso, os pacientes sentem como se estivessem sozinhos. O impacto vai muito além dos efeitos físicos: os pacientes sentem que não conseguem escapar da dor constantemente presente e avassaladora, e que isso destrói sua vida. Eles não podem fazer as coisas que costumavam fazer antes, e sua imagem do futuro é destruída: "Isso rouba sua vida". Em alguns casos, isso leva a pensamentos suicidas.
Foco positivo
Alguns pacientes se recusam a aceitar a miséria e tentam enfatizar os aspectos positivos de sua vida. Eles estão felizes com sua família e amigos ou se comparam com pessoas que estão em uma condição ainda pior, como um amigo que tem câncer ou alguém que precisa ser submetido a uma cirurgia cardíaca.
Metáforas
Pacientes com dor geralmente buscam refúgio em metáforas para descrever sua dor. "A dor parece agulhas no meu pé" ou "parece que alguém me apunhala no pescoço repetidas vezes". Eles também tentam se conectar com as experiências de dor que outras pessoas passaram, como "como se você batesse no dedo do pé" de "sentir dor de parto nas minhas costas".
Externalizar
Muitos pacientes descrevem sua dor como algo ou alguém que não faz parte de seu corpo, mas torna sua vida miserável. Eles personalizam sua dor, como um oponente que deve ser vencido. "Parece que algo escuro está me drenando" ou "algo que está queimando dentro de mim".
Palavras versus frases
Os cientistas concluem que os pacientes descrevem sua dor com mais frequência usando metáforas ou frases do que em adjetivos como 'pesado', 'picada' ou 'irritante'. A linguagem da dor parece mais complexa do que apenas palavras simples, e isso lança uma luz diferente sobre os questionários sobre dor - como o McGill Pain Questionnaire, que usa palavras únicas para descrever a dor. Dadas as declarações dos pacientes, os pesquisadores pensam que a dor deve ser avaliada em um contexto social holístico e que adjetivos únicos são insuficientes.
Tratamento
Os cientistas também vêem oportunidades de usar metáforas no tratamento da dor crônica. Se suas metáforas indicarem que os pacientes tendem a ter pensamentos catastróficos sobre sua dor ('isso destrói sua vida'), a terapia (comportamental cognitiva) pode ajudar a convertê-las em imagens e pensamentos mais construtivos.
Expert opinion by John Bos, MSc.
Vale a pena ler este estudo qualitativo exploratório. O artigo descreve uma parte das percepções ocultas e invisíveis de pacientes com dor crônica. Os resultados são valiosos para a prática diária. Histórias (ou narrativas) sobre dor crônica não podem ser explicadas em palavras únicas, mas são construções de linguagem muito complexas, nas quais as experiências são expressas principalmente em metáforas. Portanto, os autores têm algumas notas críticas sobre o valor dos questionários sobre dor. Na opinião deles, estão muito longe das experiências complexas. Como autor desta implicação prática, apoio totalmente esta afirmação. De acordo com a descrição da saúde do filósofo Georg Gadamer, a dor crônica pode ser descrita como uma 'condição física (ou desordem) não exclusiva ou separada, mas muito mais um estado perturbações da vida em que os valores humanos são seriamente afetados '. Ser completamente tomado por um corpo doloroso, que restringe extremamente o envolvimento em um mundo social, e até leva as pessoas ao desespero e ao isolamento, é um aspecto importante do mundo sofredor de pacientes com dor crônica. Isso tem implicações para os cuidados de saúde em geral e, portanto, para a fisioterapia.
As implicações para a prática diária em fisioterapia são:
- Negocie aspectos do sofrimento humano e dê aos pacientes a sensação de reconhecimento sem julgamento.
- Tente articular esses aspectos gradualmente até um ponto-chave temático.
- Tente mudar gradualmente a externalização da dor para a internalização; isso reforça o controle sobre os próprios sentimentos.
- Não force essa transição.
- Dê aos pacientes a sensação de que externalizar a dor não é "ruim ou errada", mas ajuda no processo de aceitação da operação.
- Gradualmente, concentre a conversa no futuro e não no passado.
- Torne a imagem do futuro negociável e reserve um tempo para isso.
- Principalmente, tente identificar aspectos positivos.
- Facilitar em colocar a própria situação da vida em perspectiva.
- Use metáforas e elogie as metáforas do paciente
- Tente usar metáforas e não use muita linguagem factual.
- Não use questionários de dor.
- Evite a frustração por não usar todos os tipos de questionários ou instrumentos clinimétricos que estão muito longe da percepção profunda da dor dos pacientes.
- A dor crônica não pode ser capturada em palavras ou números.
> A partir da: Munday, Disabil Rehabil (2019) (Publ. antes do impresso). Todos os direitos reservados a: Informa UK Ltd. Clique aqui para ver o resumo. Traduzido por Raphael Vianna.
