
Enxaquecas e cefaleias cervicogênicas
As enxaquecas aparecem sem uma causa identificável, enquanto que as cefaleias cervicogênicas (CCG) são atribuíveis à coluna cervical. Contudo, as enxaquecas e CCG podem coexistir no mesmo paciente, e podem por isso ser difíceis de distinguir.
É providenciada uma estratégia de diagnóstico e tratamento: aplicar uma pressão sustentada na coluna cervical superior pode servir para provocar ou aliviar a cefaleia. No sujeito deste caso, a protração da coluna cervical agravou a cefaleia, enquanto que a retração provocou um alívio.
Um resultado positivo foi alcançado com uma combinação de terapia manual e um programa de exercícios domésticos para auto-mobilização, fortalecimento dos flexores profundos do pescoço, e fortalecimento do ombro.
Foi realizado um estudo de caso numa mulher de 28 anos com queixas de cefaleia nos últimos 5 anos, com uma frequência de até 16 vezes por mês e uma duração aproximada de 6 horas por episódio. A paciente atribuiu as suas cefaleias a uma diminuição da atividade física devida a um aumento no horário e tempo de deslocação para o trabalho.
A paciente avaliou a sua dor em 72/100 na escala visual análoga e teve uma pontuação de 17 em 45 pontos no Headache and Disability Index. Ela não estava a tomar analgésicos mas tinha efetuado vários exames, incluindo uma tomografia computorizada e ressonância magnética craniana. Ambos os exames revelaram-se negativos para qualquer achado que explicasse os sintomas. O objetivo da paciente para a intervenção da Fisioterapia era reduzir as cefaleias e permitir que trabalhasse sem estar limitada pela dor.
Foi realizada uma avaliação completa à coluna cervical. A paciente tinha dor à palpação no trapézio direito ao longo do pilar articular C2-3. A palpação na mesma zona provocava a sua cefaleia, e este segmento mostrou ser hipomóvel comparado com os restantes na coluna cervical. A palpação de C7-T1 reproduzia a dor no pescoço. O teste muscular revelou uma fraqueza do esternocleidomastoideu e dos retratores da omoplata.
Devido à disfunção da coluna cervical, foi feito o diagnóstico de CCG. Contudo, a história clinica e as características da cefaleia sugerem que pode existir também enxaqueca.
O tratamento consistiu em 6 sessões de Fisioterapia durante 6 semanas, que incluíram terapia manual, exercícios gerais, e educação sobre postura. A terapia manual incluiu uma manobra SNAG de Mulligan em C3 e C7. Esta manobra foi realizada também pela paciente em casa, juntamente com exercícios para o quadrante superior e treino postural.
No seguimento após 6 meses, as cefaleias tinham reduzido dramaticamente de 16 para apenas alguns dias por mês. A intensidade da dor na escala visual análoga desceu para 23/100 e a paciente reportou melhorias nas atividades da vida diária.
Este artigo apoia uma abordagem multimodal à CCG. Vários dos sintomas de CCG são semelhantes aos da enxaqueca, e neste estudo de caso, a terapia manual aliviou os sintomas da CCG. Contudo, de acordo com os autores, este caso em particular apoia também a ideia de que a terapia manual pode potencialmente ser usada no tratamento de enxaquecas.
Expert opinion
Este estudo de caso realça a sobreposição de sintomas entre CCG e enxaquecas. É importante reconhecer que – apesar de a terapia manual ser a componente principal da avaliação e tratamento – os autores realçam também a importância da postura, educação, e exercício para se ter atingido este resultado positivo.
> A partir da: Satpute et al., J Man Manip Ther (2019) (Publ. antes do impresso). Todos os direitos reservados a: Informa UK Ltd. Clique aqui para ver o resumo. Traduzido por José Pedro Correia.
